sábado, maio 10, 2008

Hoje, no mercado

Há, no mercado, a ancestralidade da troca, o encontro primário de todos nós com a necessidade e a sua superação, pela compra ou pela venda.

Hoje, no mercado, mais do que as compras ou o recorte de um qualquer olhar etnográfico, houve contormos de realidade que me inquietaram. Os contornos de uma sociedade tão pobre. Retratos de um capitalismo de miséria, velhos curvados, sem dentes, enegrecidos e tristes, vergados pelo tempo e pelo trabalho. Tinham uma horta, que transportam para a bancada: nabos, cenouras, cebolas, laranjas e favas. "Maio as dá, Maio as leva", rematam.

"Um avio tão grande, merece uma oferta", disseram. Regressamos com o avio, e com ramos perfumados de coentros (já em flor), mais algumas folhas de alho.
Por dentro, a verdade que nos assola: vendem, no mercado, seguramente para poderem comer.