sexta-feira, junho 27, 2003

Lugar para dizer outra coisa

Palavras de meio-dia. A figura do meu espanto cola-se a um anúncio de telemóveis onde as imagens legendam: não fale, inove.

Penso que as ondas de choque de tal enunciado remetem para um atentado ao estatuto do conhecimento. Estaco.

Como conciliar o individualismo dominante com o desafio social do être ensemble?

Como pensar a alteridade numa sociedade aberta quando o outro é já, por vezes, mais ameaçador que desejável?

A técnica intervenciona e revoluciona: o seu carácter instrumental evolui num crescente acelerador e móvel da experiência. Sempre assim terá sido, mas o logos rende-se cada vez mais ao automatismo da imagem e a cultura é cada vez mais ruptura.

Ancoremos de novo a comunicação no nicho de uma experiência antropológica essencial e restabeleçamos o seu sentido de modelo cultural. Resgatar o que se perdeu quando passou a predominar uma visão funcional (de eficácia, de necessidades, de interesses), passa por redifinir o horizonte de compreensão mútua. Porque se a comunicação se joga com o outro e se glosa na aproximação e no limite, não incorramos no degré zéro, na banalidade de silabar: não fale, inove.