quarta-feira, dezembro 19, 2007

Detesto recomeçar

porque recomeçar implica o reconhecimento de uma falta e de uma ausência

e talvez por isso me seja mais fácil aceitar a descontinuidade (e deixá-la crescer selvaticamente como urtigas por sobre os baldios) do que admiti-la e, ainda por cima, assiná-la, subscrevê-la, rubricá-la com o íntimo de mim.

talvez o problema seja o do nome. e então no meu breviário este não é um recomeço. recomeçar é entregar-se ao fracasso do que tardou em ser cumprido.

e escrever aqui é um acto de expiação sagrada dos dias. não é uma obrigação rotineira.

ah, as fatias da vida são entremeadas por vazios forçados, lapsos de tempo em que dificilmente se escapa à voragem e se entra em órbita tangencial

a verdade é que, no ir e no vir e no que não se passou aqui, houve tempos muito preenchidos. tão-só ficaram não-testemunhados.

houve vida. and this was its soundtrack (blessedly discovered in a hurry to find yet another christmas gift)



Nina Simone, "Ain't got no... I've got"

1 Comments:

At 11:28 da tarde, Blogger rocha said...

Para ti, para depois do regresso de S.Paulo...

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).

Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.


Miguel Torga

Força!...

 

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