segunda-feira, julho 07, 2003

Da neutralidade

Uma das ideias que indirectamente se anuncia no post anterior é a de que o acontecer mediático depende da óptica jornalística. Os meios de comunicação e informação, integrados na indústria cultural, agem fortemente na fabricação de consciências. Esta proliferação de uma imparável tecnologia de persuasão, modifica as regras da comunicação humana. A acompanhar a mediatização encontramos dispositivos hábeis em controlar a opinião pública, as posturas, as crenças e os sistemas de valores.

Leia-se, a este propósito, Serge Halimi no livro Os Novos Cães de Guarda. Somos confrontados com uma ética indignada, um jornalismo de reverência, estreitamente relacionado com o poder, que se vem desenvolvendo com a mercantilização da informação.

Passando a redundância, sonhemos uma utopia...
Idealmente, o jornalismo consolida-se sob o fundamento da objectividade. Significa isto que o conhecimento produzido pelo jornalismo se baseia numa rigorosa observação dos factos, estáveis e absolutos na essência que os constitui.

Ao jornalista confiamos a capacidade de capturá-los e torná-los conhecidos pela generalidade do público. Esta noção especular do conhecimento centra-se na ideia de que o jornalista reproduz fielmente o facto, num processo de reportabilidade da realidade. Induz-se, a partir destes postulados, que se assume a neutralidade do jornalista num grau de pureza e autenticidade perante os factos, num estado de alheamento emocional. O jornalista deve ter o discernimento e isenção necessários para não comprometer a veracidade do relato.


O outro lado: o da dureza da confrontação empírica...
Haverá mesmo uma realidade factual anterior à notícia? Ou o facto noticiado constitui-se como realidade mediante processos activos de atribuição de sentido, implicando a acção subjectiva do jornalista que encara e conhece, um meio que impõe valores-moldura e uma estrutura de trabalho (empresa, jornal, estação televisiva) que impele a uma determinada orientação?

Não serão as palavras, as imagens e os sons que constituem a notícia objecto de selecção? Não traduz este processo marcas de intencionalidade e responsabilidade? Claro que sim...