quarta-feira, julho 09, 2003

Das Relações Públicas

O estudo das Relações Públicas é polarizador dos conhecimentos das ciências sociais e humanas. O inegável objectivo de legitimação do poder do homem para marcar, manter e ampliar o seu espaço na sociedade assim o confirma.

As Relações Públicas definem-se como processo pluridimensional de interacção com os públicos. Qualquer abordagem não ficará imune a interrogações paradigmáticas que, como no campo das ciências sociais, adiantarão que a objectividade não é atingível. Há sim fenómenos emergentes, processos de comunicação mais ou menos equilibrados, grupos sociais, problemas conceptuais que focam a linguagem, o poder e a condição do homem social.

A interdisciplinaridade é, talvez, a abordagem mais coerente. Há em todas as áreas do conhecimento referenciais emprestados por vários ramos do saber, há estruturas psicossociais, culturais, económicas, políticas, ideológicas, histórico-filosóficas, que ditam uma perspectiva integracionista de conceitos. No campo das Relações Públicas, diríamos, talvez, que há um corpo de ideias e procedimentos expressos em linguagens múltiplas, consequência de uma grande permeabilidade, de fronteiras esbatidas pertencentes a um organismo cultural.

O seu papel nas Ciências Sociais não é de afirmação como paradigma explicativo do sistema mundo. Mas é útil reconhecer a sua importância para a compreensão de alguns fenómenos: as relações públicas projectam-se na práxis como um agir reflectido e transformador; elas lidam com o universo simbólico dos conflitos, das acções organizacionais de interesse público, tendo como suporte o processo comunicacional, expresso em várias linguagens.

A linguagem é, aliás, um processo essencial ao estudo das Relações Públicas. As suas condições denotativas, representativas, por vezes ambíguas, são construtivas de um discurso intencional, de um jogo de acção comunicativa, como diria Habermas. Por isso, interessa às ciências da comunicação, como à semiótica, compreender o que subjaz às formas de relação com o outro – não podemos esquecer as dimensões da linguagem, as roupagens coercivas, libertárias ou alienantes de que ela se pode revestir.

Apesar de um constante assédio mediático que nos assombra com o espectro permanente da opinião pública, de uma massa categórica e alheia à manipulação do discurso hegemónico, não devemos perder de vista a dimensão individual do homem que, mesmo pertencendo a um grupo, é dotado de estruturas e interesses particulares que superam os da colectividade.

A linguagem dos média procura hoje atingir as massas com uma constante simulação do interesse comum, contornando controvérsias, moldando consciências e opiniões para constituir um público, procurando o arrebatamento da multidão. A linguagem dos média traduz uma manifestação de instâncias legitimadoras, de poderes mais ou menos visíveis nos quais devemos atentar.

E o poder reveste-se de um aspecto difuso e doseável, visível quando se manifesta, oculto intencionalmente quando quer colocar o indivíduo em evidência. É criado um aparato racional, controlam-se sistemas de apoio adequados a modelos tecnocráticos que se apresentam como determinações institucionais.