quinta-feira, julho 10, 2003

Da construção discursiva

Lembrei-me hoje de reler as Memórias do Mediterrâneo, de Fernand Braudel [vulto da Escola dos Annais, um dos redimensionadores da discussão historiográfica, defensor de uma nova perspectiva e de um novo lugar teórico para a história, especialmente como movimento pluridireccional, relacionado com uma nova dialéctica das durações temporais].

E a questão do tempo e da [re]construção discursiva interessa às Ciências da Comunicação, ao estudo dos média. Está até, a meu ver, muito relacionada com a problemática da visibilidade do que acontece, da lógica discursiva de agressivo aparato mediático.

Inquietam-me estas questões. Inquieta-me pensar a condição da própria cultura. Autores como Foucault, Deleuze, Baudrillard ou Lyotard realçam o papel da linguagem como prática importante para a fundação das relações sociais. Os discursos sociais aparecem assim como um sintoma da crise que se abate sobre as pretensões universalistas das certezas modernistas.

É talvez o fim da totalidade social. Não mais existe a coerência estrutural proposta como racionalidade da história. Atentemos nas narrativas que moldam e influenciam a sociedade civil.

O tempo é de indefinição, de reposicionamento da relação entre o conhecimento e a realidade social. Porque se constatam os limites do conhecimento científico e a multiplicação dos discursos fundadores do real. Porque nasce a noção de que as identidades colectivas [e cada vez mais as individuais] têm uma construção discursiva.