sexta-feira, novembro 25, 2005

Palácio de Inverno

Hermitage

O Hermitage habita aquele palácio.
Eis a razäo porque me sinto minimal.
Assombro provocado pela ordem da grandeza.

Lá dentro, um total de três milhöes de obras de arte.
Lembro as cores musicais de Matisse, o ritmo, a expressäo, a dinâmica das figuras. E o detalhe do último quadro que vi... A disposiçäo dos corpos como notas numa pauta.


["Dance", Henri Matisse]


["Music", Henri Matisse]

Post Político [II] com Manin, Przeworski e Stokes

O dilema é, acredito, de muita gente. Outra vez para as presidenciais de Janeiro. Como escolher um candidato?

Uma certa teoria política defende que há dois tipos de voto: o voto prospectivo [baseado em promessas] e o voto retrospectivo [que convoca os registos do que foi feito no passado].

Entäo, pensei. Entre a memória e o futuro [as brumas do futuro, talvez] nos encontramos.


terça-feira, novembro 22, 2005

Leo Tolstoi,

É este comboio.





14.11 - 20.11

Pouca-terra, pouca terra sobre os trilhos gelados, brancos de neve, ligando Helsíquia a S. Petersburgo e a Moscovo. Para mim, memória do charme e romantismo das viagens do passado. Imagem literária. Imediatamente me transfiguro e sou já personagem literária. Emoçäo contida da partida e da chegada. Emoçäo que se espraia na plataforma. No embarque e no desembarque. No átrio de cada estaçäo. No atravessar das portas e na descoberta do novo.

BABOUSHKA, the old lady

Red Square... bizarrias do colapso de um sistema

Comunismo: "teoria social que preconiza a supressão da propriedade individual e a comunhão de todos os bens e de todos os produtos da terra e da indústria"

Capitalismo: "regime económico e social caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção e de distribuição, pela liberdade dos capitalistas para gerir os seus bens no sentido da obtenção de lucro, e pela influência dos detentores do capital sobre o poder político"

in Dicionário Universal da Língua Portuguesa; Texto Editora.


Moscovo. Praça Vermelha. Circundam a praça lojas das griffes ocidentais mais luxuosas. Quantos cidadäos de Moscovo vestem Kenzo, se perfumam com Dior ou se passeiam com malas Louis Vuitton?



Malevitch [1915] "Red Square"

Post político,

agora, que se aproximam as eleiçöes presidenciais.

O partidarismo näo deve nunca sobrepor-se à cidadania.


Fronteira

Atravessar uma fronteira é sentir de perto o limbo e a vertigem do abismo. Há sempre o risco de näo se entrar. Mas há também o risco de se entrar e näo voltar a sair. É a perspetiva da clausura que me assusta. O domínio da territorialidade fiscalizada. Quantos centímetros de terra preciso pisar? Eu, o estrangeiro... Sou estrangeiro porque sou do lado de lá. Sou o veneno no qual se alicerça o antídoto da identidade dos que falam outra língua, dos que usam outro alfabeto, dos que partilham uma geografia [paisagens, interiores, formas de sentir, formas de ver] distinta da minha.

Ao atravessar a fronteira, nunca me senti tão imensamente outro.