segunda-feira, junho 30, 2003

Psicanálise da minha observação

Quadro. Lugar de texto e de reencontro de uma intuição fulgurante. Erótica significante (porque sensualista), descoberta paciente e apaixonada. Cadeia de pulsões que culmina na explosão de sentido; que me investe; que me inunda...

Como nos comunicam os invisíveis ou a percepção da manifestação artística (a partir de Vermeer)

Quadro aclarado por uma luz nocturna. Quadro em luz de noite. Assim nos falam os quadros que lemos. Galeria: de dois tempos que cruzam o dizer. Verdade residual do observador.

domingo, junho 29, 2003

O nome deste enigma (III)

É habitus voluntário da imediatidade do eflúvio.
José Agusto Mourão (A Sedução do Real - Literatura e Semiótica) chama-lhe des-possessão ou trânsito entre ler e escrever.

Eu chamo-lhe incorporação.

Trabalhos de um discurso sentencioso (II)

Venci os critérios retóricos narratológicos?
O código revela-se-nos no programa narrativo. Operam-se os estados e percursos figurativos.

Imago. Imagem. Imagético. Ser um traço e ser um território habitado, ser actor em cena, sujeito virtual, competente e realizado - é isto comunicação, ou fronteira da performance?

Aporias ou uma poética da comunicação (I)

Não desejo um segmento de realidade bem sucedido. Aliás, o desejo de um incompleto sucesso do meu acto comunicativo forçará o interlocutor ao código estético que, com ele, voluntariamente, partilho.

Estático, [ana]fórico, dinâmico. Linha de expectativa que nada espera. Pura virtualidade.

Eu devia densificar o momento saliente do meu acto comunicativo. Mas antes me apetece vogar e pronunciar a existência de um objecto-eu.

sexta-feira, junho 27, 2003

Lugar para dizer outra coisa

Palavras de meio-dia. A figura do meu espanto cola-se a um anúncio de telemóveis onde as imagens legendam: não fale, inove.

Penso que as ondas de choque de tal enunciado remetem para um atentado ao estatuto do conhecimento. Estaco.

Como conciliar o individualismo dominante com o desafio social do être ensemble?

Como pensar a alteridade numa sociedade aberta quando o outro é já, por vezes, mais ameaçador que desejável?

A técnica intervenciona e revoluciona: o seu carácter instrumental evolui num crescente acelerador e móvel da experiência. Sempre assim terá sido, mas o logos rende-se cada vez mais ao automatismo da imagem e a cultura é cada vez mais ruptura.

Ancoremos de novo a comunicação no nicho de uma experiência antropológica essencial e restabeleçamos o seu sentido de modelo cultural. Resgatar o que se perdeu quando passou a predominar uma visão funcional (de eficácia, de necessidades, de interesses), passa por redifinir o horizonte de compreensão mútua. Porque se a comunicação se joga com o outro e se glosa na aproximação e no limite, não incorramos no degré zéro, na banalidade de silabar: não fale, inove.

quinta-feira, junho 26, 2003

Existência possível

Nos trilhos de uma hermenêutica ricoeuriana, apetece-me hoje pensar os textos que não li. E acreditar que por essa omissão me acometo de grave falta, parce qu’il me manque quelque chose...

Sim, faltar-me-à o indizível que os textos que não li condensam. O ar dos tempos que respiram e que eu ainda não respirei.

Na verdade, gostaria de crescer dentro do texto-infinito, multireferente e sequencial (às vezes), para não mais sair da sua doce e apetecível clausura. Desejo perder-me nessa homologia construída a cada palavra, superar a eficácia da técnica interpretativa e permitir-me a deriva ontológica. Eu quero saber do ser que compreende e que sou eu. Eu quero saber o que torna possível a alquimia da compreensão; e ler o mundo-texto que [ainda] não li.

terça-feira, junho 24, 2003

Manifesto

Da incompletude do olhar contemporâneo, proposta de um ângulo agudo analítico e observador. Leitura dos interfaces mediáticos, confrontação com os hiper [corpos, textos, sensualismos, sensualidades e sensacionalismos].

Vontade de uma escrita que se espraia rasgando e raiando o egotismo, mas que se submete à leitura para que, assim o esperamos, se entranhe e a todos contagie da mesma vontade, do mesmo [sempre] querer...