terça-feira, outubro 25, 2005

Como dizer saudade

E ser täo português, quando estou täo longe. Nada me chega de Portugal, aqui. A näo ser que o procure.

Mas, sim, procuro saber do meu país. E cumpro o ritual de, todas as manhäs, ler a versäo online dos jornais. Näo encontro jornais portugueses impressos. Há o The Herald Tribune, o The Guardian, o Le Monde, o Corriere della Sera, O El Mundo... Mas näo há o Público ou o Diário de Notícias.

E é claro que reinvento formas de aproximacäo à portugalidade. Aqui, entre pessoas de tantas nacionalidades, perguntam-me porque só trouxe música portuguesa comigo. É que, ao fim do dia, a musicalidade da língua é a palavra ritmada que me embala.

E, de repente, lembro-me do que é sentir-se emigrante. Lembro-me que a memória de muitos emigrantes está associada ao Portugal que deixaram para trás. E a representacäo do seu Portugal cabe nas saias rodadas de um rancho folclórico, por exemplo.

O meu Portugal cabe nas formas mais nobres da gastronomia. Como sinto falta da boa comida portuguesa... Procuro um bom azeite e näo o encontro. Procuro um päo caseiro e sou obrigado a conformar-me com uma baguete deslavada e branca. Procuro queijo(ah, como o queijo provoca em mim uma sinestesia indescritível: o paladar e o cheiro de um bom queijo de ovelha) e sou obrigado à escolha internacional de um chedar cheese ou de um brie.

Tudo isto para dizer que, hoje, me apetecem pastéis de nata.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Under downtown Helsinki

As ideias simples säo de uma eficácia extrema, sempre que bem desenvolvidas. Quando, à superfície, a cidade gela e todos tiritam de frio, há um subterrâneo que fervilha.

Descobri que Helsínquia é uma cidade duplicada. E näo é uma confrontacäo mimética, nem um jogo de espelhos. Há, afinal, uma urbe que alastra debaixo do chäo. Säo lojas, supermercados e sucessöes de túneis que permitem deslocacäo e consumo fáceis. Porque lá fora quase neva. Porque lá fora tudo se transfigura e se afigura inóspito.


terça-feira, outubro 18, 2005

Frio. Caiu a Noite. Nevará, em breve.

Sociedade da Informacäo

Em Helsínquia, cidade onde estudo presentemente, pude conhecer a nova Aleksandria. Näo sendo a biblioteca universal, memória dos tempos e de todos os homens, ela é certamente um lugar de inscriçäo, de preservaçäo, de acesso democrático ao conhecimento mediado por diversos suportes.

Aleksandria é a biblioteca que frequento em Helsínquia. A questäo da nomenclatura näo é fácil. A Aleksandria é um learning centre. Compreende um laboratório de informática de cinco pisos onde os computadores podem ser usados 24 horas por dia; salas de estudo; um self-learning language centre; um centro educacional para as tecnologias da informaçäo; uma biblioteca completíssima onde posso requisitar quantos livros desejar...

Deixem-me explicar que näo é por acaso que a Finlândia lidera os rankings de literacia e performance tecnológica. E näo é difícil perceber porque é que este povo teve de descer do topo das árvores (ah, as incomensuráveis florestas...), abandonar as indústrias de pasta de papel e investir em I&D. A Finlândia näo foi sempre um país rico, dizem-me. Mas a sujeicäo a um ambiente hostil obrigou à inovaçäo. E, claro, é visível nos finlandeses uma apetência natural para os gadgets, para os dispositivos tecnológicos, para os novos media.

A sociedade da informaçäo é aqui um compromisso colectivo. Mas é um compromisso inclusivo e näo-elitista. O ensino é orientado para uma práxis que espanta a tecnofobia. Espera-se do aluno o esforço, a vontade e o desejo de ser obreiro do seu saber. O processo é dinâmico e contínuo porque aprender é uma tarefa sempre incompleta.


Aleksandria

domingo, outubro 16, 2005

O poder de testemunhar o movimento

está em ser impelido, motivado, convidado a...
Depois, os olhos, a boca, os braços, as mäos estäo já in motion.
Os pés desenham uma mecânica fácil e ritmada. O vento agita os objectos, altera-lhes a trajectória. A água ondula, à superfície. E a acçäo acontece, irrepetível. Apreensível, contudo.



Petri Anttonen (1999) Yhdeksän autoa itään, kymmenen länteen




Arno Rafael Minkkinen (1974) Beach Pond

Roman fleuve

Houve um tempo em que eu conhecia a minha escrita. Em que as palavras escorriam como sumo e se tornavam torrente. Mas, hoje, sem saber como nem porquê, percebo que ganhei novo vício. Deitei para trás das costas o roman fleuve e abracei a lava quente, sólida e imediata da palavra-pedra. Basáltica e dura. Só näo sei quem me ensinou a economia da palavra.

In my head

Royksopp
"The Understanding"



O clima melódico da masterizaçäo electrónica. Música compósita. Composiçäo fragmentária. Música plástica. Partículas sonoras que transitam entre o ontem e o amanhä.


Only this moment
Holds us together
Close to perfection
Nothing else out there
No one to guide us
Lost in our senses
Deep down inside I know our love will die

Only this moment
Holds us together
Lost in confusion
Feelings are out there
Scared of devotion
Doubting intentions
Deep down inside I know our love will die

Stay or forever go
Play or you´ll never know
What heaven decided
You can´t deny it´s
All you´ve been waiting for

Stay or forever go
Play or you´ll never know
Your spirit´s devided
You will decide if I´m
All you´ve been waiting for

Clouds in my head have been parted with grace
By the voices of an angel revealing her face
and her words they make sense ´n´ I do understand
Falling in love isn´t part of a plan

Forces within me mix reason with lust, but
I´ll try to accept it and not make it worse
´cause I know I might loose it by taking the chance,
(But) love without pain isn´t really romance

Only this moment
Holds us together
Close to perfection
Nothing else out there
Always beside her
Trusting my senses
Deep down inside I know love will survive

Only this moment
Holds us together
Close to the other
Nothing else out there
Always beside her
Trusting my senses
Deep down inside I know love will survive

Bird flu



In a space of global flows, is it possible to return to the village?
Informacäo, capital, imagens, riscos. Non-stop.

sábado, outubro 15, 2005

Onde mora o demiurgo?



[Comédia recomendada a existencialistas; elogio do nonsense; brilhante Isabelle Huppert]

Ficha Técnica
Título original: I ♥ Huckabees / I Heart Huckabees
Título (Português): Os Psico-detectives
Realização: David O. Russell
Intérpretes: Jason Schwartzman, Mark Wahlberg, Jude Law, Lily Tomlin, Dustin Hoffman, Isabelle Huppert, Naomi Watts
EUA, 2004



A coincidência é o exorbitante da vida.
Fluidez do absurdo psicótico: semelhante; tensäo; dessemelhante; tensäo.

A ordem reside no caos e no desequilíbrio. Esta é a [minha] cosmogonia. Esta é a [minha] cosmovisäo.

interface = typewriter

quando ainda havia opacidade...



Renaissance



Time and time again. Only time.